17 de jul. de 2012

Para descontrair...


Num belo domingo um motor 2T refrigerado a ar, que andava com duas agulhas, uma baixa magra e uma alta gorda, resolve sair dar umas voltas pela pista.



Nas primeiras voltas tudo tranqüilo o piloto está esquentado pneus e andando na boa. Dura pouco tempo o cara começa baixar a bota, entra na reta com o cabo do bura esticado até o talo, cabeçote e cilindro tranquilos com cabelos ao vento. O Sr. Bura, como um barman preparando o cocktail dos Deuses: Etanol + Óleo 2T + Ar, mandando direto na goela do motor. Tudo certo para um Fim de semana perfeito.
A reta está acabando o piloto tira o pé, a borboleta fecha, a agulha de alta para de suprir o motor, o giro vai caindo, está agora em 10 mil RPM, o anel esfregando no cilindro 166 vezes por SEGUNDO e a película de óleo cada vez mais fina.
O clima começa a esquentar, o cabeçote fala pro bura:
- Manda mais óleo Mané!
- Seguinte mano, a de baixa tá magra e tem óleo não! – Responde o bura.
O pistão começa a ficar de cabeça quente:
- Resolvam logo essa parada senão vou perder a cabeça!



Borboleta na posição média /baixa só a agulha de baixa funciona.


Os roletes do pino do pistão estão rezando e querem fugir da gaiola, a biela e o vira que estavam achando tudo COOL começam a ficar preocupados.
O piloto soca o pé no acelerador, alegria geral, a de alta, aquela gorda, entra na parada e as duas agulhas juntas mandam óleo por tudo que é furo do bura mas… De repente aparece um piloto com outro kart a sua frente, o que já era ruim começa a piorar, sim, pois um piloto na frente, o de trás é OBRIGADO a ultrapassar.
Enquanto isso no cárter a coisa está esquentando. A bolacha do vira e a amiga biela não estão achando mais que está tudo COOL, se refrescam na mistura fresca, e lógico, esquentam o óleo que com o aumento de temperatura vai perdendo a viscosidade.
O ciclo se repete, pé no fundo com as duas agulhas trabalhando, refresca um pouco, tira o pé só a de baixa funciona, esquenta. O piloto não consegue ultrapassar, anda colado no pára-choque do kart da frente, a dupla cabeçote e cilindro ficam putos com a situação, no vácuo a coisa esquenta ainda mais.
Dentro do motor, a película de óleo está toda cheia de si se achando cada vez mais esbelta para o desespero do pistão que cada vez mais dilatado e puto da cara grita para o cilindro.
- DILATA, DILATA senão vai dar MERDA!
O cilindro com aquele jeitão de malandro replica:
- Você só pode tá bêbado cara, andou bebendo NITRO? Estamos em pleno vácuo estou quente pacas. Por acaso vc esqueceu que meu coeficiente de dilatação é menor que o seu? Vai procurar tua turma!
Já no limite, o piloto da frente entra nos boxes para um pequeno alívio no reino das peças, de volta com a cara para o vento a coisa resfria um pouco, pena que não por muito tempo, pois o nosso piloto ainda está empolgado, com o rabo cheio de adrenalina começa a cantar:
- Ai, se eu te pego, nossa, nossa…. e nem lembra o que é agulha de alta e de baixa.


Borboleta na posição pé no fundo as duas agulhas funcionam


O pistão já aos berros para o cilindro:
- Cara DILATA agora! É uma ordem!
O cilindro, já de saco cheio esbraveja:
- Ordem? Era só que me faltava! As tuas priminhas de alumínio, as aletas, estão me resfriando, estou contraindo Mané! Se vira nos 30 meu!
O pistão apela pra Senhora Vela:
- Sua vaca, pare de ficar piscando igual a uma penteadeira de puta, dá um tempo, apaga tudo ai, vai dormir!
- Não posso fazer nada, perdi a razão estou apaixonada seguindo os impulsos da ignição! – responde a Senhora Vela toda elétrica.
Todos em coro pedem para a ignição dar umas rateadas, simular mau contato ou fazer qualquer coisa para alertar o piloto.
A distinta senhora MOTOPLAT com mais de 40 anos de excelente trabalho prestado a comunidade kartista, responde com a classe de sempre.
- Senhores, não posso denegrir a honra de minha linhagem. Nós não ficamos doentes, não apresentamos defeito intermitente, funcionamos com 100 % de eficiência até o ultimo suspiro. Não existe meio termo ou é vida plena ou morte. Sinto muito, ainda não chegou a minha hora de partir.
Num ato de desespero o pistão suplica para as agulhas:
- Ô da de baixa, abre um pouco ai, please!
- Qualé cara! Não sou dessas de ficar me abrindo pra qualquer um não. Só me abro pro piloto.
Bem ao fundo deste cenário catastrófico começa a ecoar um leve ping-ping, parece ser um ruído de metal contra metal, o anel resmunga:
-É o diabo arrastando as correntes do inferno, é para onde todos vamos se eu continuar me esfregando no cilindro com pouco óleo.
- Valha-me minha Deusa Ísis! O que é isso? Exclama a pirâmide apavorada e novata na área.
- Não disse, não disse? Agora é uma questão de tempo, pra ser mais exata, de segundos – diz a Biela.
A pirâmide começa a chorar e a se lamentar. – Sou muito nova para virar múmia.
O som que era baixinho começa a tomar conta do espaço, era o som do temido "Grilo", prenúncio de morte eminente, com o motor grilando todos já estavam condenados…
Trinta segundos depois o pistão fala com voz pastosa:
- Eu avisei cambada de boca de burroooo esssstouu perdendoooo massssaaa encefáliiiicaaaaa!
Os pequenos pedaços da cabeça do pobre pistão começam a se infiltrar na canaleta do anel, na gaiola, entre as bolinhas do rolamento e tudo gera cada vez mais calor. O fim está próximo.
Está tudo quente, muito quente começando a derreter. De repente não mais que de repente e por um breve momento, silencio mortal….
O cabeçote com ferimentos leves, o único que sobreviveu para contar essa estória, antes de desmaiar ouve uma voz desesperada vinda lá do fundo do capacete, abafada pelo ruído dos pneus travados queimando no asfalto.
- FUDEU, FUDEU!
 
Texto: Darci e Rodrigo Bmikossiski

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